“Os tempos são difíceis para sonhadores”

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-Mas eu nem a conheço./ -Conhece sim. Dos seus sonhos.

Amélie é para sonhadores, definitivamente.

Sexta, dia 31 de Outubro, finalmente comprei meu filme “Le Fabuleux Destin D’Amélie Poulain” e é sempre como se estivesse assistindo pela primeira vez, porque sinto a mesma emoção de quando me encantei a primeira vez (e a primeira vista) com essa singela moça de nome Amélie Poulain que com seu fabuloso destino, seu fabuloso mundo e principalmente seus fabulosos sonhos fazem brilhar os olhos de outros sonhadores assim como ela.

Já escutei críticas ao filme por ser algo simples, “uma história bela, mas despretenciosa, nada demais”.
Nem sei se essa é a proposta do diretor Jean- Pierre Jeunet, mas o que esse delicado mundo me transmite é: simplicidade.

E isso que me fascinou, ser um filme simples e belo, não há necessidade de grandes explosões, ou catástrofes ou complexas questões filosóficas (não desmerecendo os filmes que tenham esses requisitos) mas basta observar alguns detalhes e se deleitar.

Simplicidade e encanto, ora por que não? Se na verdade, o encanto está nos mínimos detalhes, talvez por serem tão mínimos muitas pessoas não enxerguem. São mínimos e sem explicação.

A maneira como é apresentada os personagens no começo do filme também foi algo que me chamou atenção. Coisas aparentemente bobas e sem nexo mostram como podem ser algo que realmente diz um pouco de quem a pessoa é. Clarice Lispector já dizia “Não confudir bobo com burro”.

Estourar bolhas de plásticos; o barulho da tigela do gato no assoalho; tirar grandes pedaços de papel de parede; estalar os dedos, estas são umas das características destribuídas entre os personagens da trama.

Então, Poulain inventa vários planos para tentar encontrar seu amor de nome Nino Quincampoix (Mathieu Kassovitz), mas não tem coragem de se entregar realmente ao sonho, de torná-lo real.

O Pai de Amélie, é um homem introvertivo que se recolheu ainda mais depois da morte de sua esposa, Amandine Poulain, enquanto sua filha o tenta convencê-lo a viver o mundo lá fora.

Um dos vizinhos no prédio em que Amélie reside, Sr. Dufayel (Serge Merlin), conhecido como homem de vidro, por possuir o esqueleto tão frágil ao ponto de que “um simples aperto de mão pode quebrar seu metacarpo”, faz uma analogia com uma moça num quadro em que ele pinta e a Amélie. Quando Poulain diz que a moça do quadro prefere tentar resolver a confusão da vida dos outros, ele pergunta: “E a confusão da vida dela? Quem vai resolver?”.

Então, assim como a protagonista muitas pessoas preferem evitar de viver sua vida, nisso também está a beleza do filme, ele nos inspira a sonhar, mas também nos alerta para a realidade de que cada um tem uma vida que pede para ser vivida e não apenas ensaiada.

Depois de deixar passar a chance de um encontro com Nino, Amelie fica imaginando o seu destino, nas cenas seguintes, por meio de um video, Sr. Dufayel a avisa : “Então querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, então, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus”.

amelie-poulain03Insegurança, medo, delicadeza, empatia, ternura, tudo isso ainda com uma dose de humor faz o tempero da obra. É um filme feliz sim! Porque não? Gostei disso, gostei por me exibir momentos alegres em tempos difíceis, por plantar sementes de sonhos em tempos de total descrença. Isso não significa fechar os olhos para a realidade, isso não quer dizer que não existem mazelas no mundo, mas porque não tentar ver a beleza das coisas? Porque não tentar enxergar os dois lados de tudo, e no caso o lado doce e simples.

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Por: Nádia Camuça